16 dicas para fotografia noturna de paisagem e natureza


Praia do Puruba, Ubatuba. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.
Praia do Puruba, Ubatuba. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.

Pessoalmente, acho fotografia noturna incrível! Quando falamos em fotografia noturna de natureza então, as recompensas são imensas e deliciosas. Ela te permite criar imagens que o próprio olho humano não é capaz de ver. Observar a movimentação das estrelas, fazer a noite clara como dia, congelar relâmpagos. Cenas que, não fosse por uma câmera, o homem jamais conheceria. E, mais do que isso, ela exige que o fotógrafo se relacione com a natureza, possibilitando uma série de experiências físicas e artísticas muito especiais. Pra mim, passar algumas horas na mata fotografando vagalumes, por exemplo, é uma atividade que me mobiliza e transforma por inteiro. Assim, eu espero poder compartilhar com vocês algo da experiência e do aprendizado que eu tive até aqui.
Você tem uma câmera com a opção de controlar manualmente a velocidade do obturador? Disposição, curiosidade e vontade de fotografar a noite? Bora cair no mundo e fotografar! Ficam ai 16 dicas pra te ajudar a começar!

1 – Modo manual sempre!


Fogueira. Canon 5D Mark II, Canon 50mm. f/5.6, 2 seg, ISO 500.
Fogueira. Canon 5D Mark II, Canon 50mm. f/5.6, 2 seg, ISO 500.

Esqueça todos os modos automáticos da sua câmera. Fotografia noturna vai te exigir usar o modo manual sempre! Também recomendo fotografar em RAW. Assim você retém mais informação na sua foto, o que será especialmente útil na hora de ajustar o balanço de branco e fazer correções durante a edição.

2 – Atenção à velocidade do obturador!


Bastidores do filme “Água Suja”. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f5.6, 13 seg, ISO 640.
Bastidores do filme “Água Suja”. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f5.6, 13 seg, ISO 640.

A principal característica técnica da fotografia noturna é o uso de baixas velocidades de obturador – ou longas exposições. Quanto mais tempo de exposição, mais luz o sensor da câmera vai absorver e mais clara a foto ficará. Como as paisagens noturnas em geral tem pouca luz, isso te obrigada a usar tempos de exposição muito maiores do que a fotografia convencional. Mantenha isso em mente e aos poucos vá descobrindo como o tempo de exposição influencia na foto. Eu daria apenas uma recomendação: evite fotos com mais de 30 segundos de exposição! A partir de 30 segundos a taxa de ruído aumenta consideravelmente, assim como as chances de algo estragar a sua foto, como você esbarrar no tripé ou alguma luz forte acertar a lente.

3 – Abertura de diafragma e ISO.


Praia do Félix. Canon 5D Mark II, Canon 24-105mm (24mm). f/4, 60 seg, ISO 640.
Praia do Félix. Canon 5D Mark II, Canon 24-105mm (24mm). f/4, 60 seg, ISO 640.

Fotografia de paisagem tem uma recomendação básica: privilegie usar o maior f possível; ou, em outras palavras, feche ao máximo o obturador da sua câmera. Isso aumenta o campo de foco e a nitidez da foto. No entanto, nem sempre isso será possível em fotografia noturna. Comece com valores mais baixos como 2.8 e 4 e vá subindo até 8 ou 11, se possível. Já a ISO, também vale a recomendação padrão: tente manter a ISO em valores baixos.
No entanto, essas recomendações podem – e devem – ser quebradas em muitos casos. Mais do que uma formalidade técnica, a fotografia diz respeito à experimentar novas formas de expressar uma ideia ou percepção sobre algo.

4 – Balanço de branco.


Estrada com estrelas. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.
Estrada com estrelas. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.

A escolha do balanço de branco deverá levar em conta dois fatores: a presença de luzes artificiais na cena e o estágio da lua. Ao nascer a lua emite uma luz mais quente do que quando está a pino no céu, por exemplo. Você vai ter de experimentar e ir checando a tonalidade das suas fotos. Em geral, os valores irão de 3.500 à 5.000 kelvin – do mais frio ao mais quente. Nas fotos acima você pode ver a diferença: a da esquerda está com 3550 kelvin e a da direita 2850 kelvin.

5 – Tripé é fundamental!


Bastidores do filme “Água Suja”. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8. 25 seg, ISO 1.600.
Bastidores do filme “Água Suja”. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8. 25 seg, ISO 1.600.

Tripé é essencial para que a foto não saia borrada. Se você tentar fazer a foto na mão ganhará apenas borrões. Se você não tem tripé ainda pode tentar posicionar a câmera no chão ou em outro objeto, mas isso vai limitar muito as suas possibilidades de enquadramento.

6 – Privilegie lentes angulares.


Auto-retrato com estrelas. Canon 500D, Canon 18mm-55mm (18mm). f/4.5, 30 seg, ISO 3.200. 
Auto-retrato com estrelas. Canon 500D, Canon 18mm-55mm (18mm). f/4.5, 30 seg, ISO 3.200.

Quanto mais angular, maior será o campo de visão da lente. Assim, você pode capturar mais da paisagem! A maior parte dos iniciantes começa na fotografia com uma 18-55mm. Ela já quebra o galho! A foto acima foi feita com uma Canon 500D e uma 18-55mm, por exemplo.

7 – Proteja-se!


Bastidores do filme “Água Suja”. GoPro Hero4. f/2.8, 5 seg, ISO 800.
Bastidores do filme “Água Suja”. GoPro Hero4. f/2.8, 5 seg, ISO 800.

Ande sempre acompanhado, não saia sem lanternas e muita atenção ao chão quando estiver andando na natureza; headlamps, aquelas lanternas que se fixam à cabeça são uma ótima pedida! Também é recomendável avisar alguém do horário e local que você vai fotografar. Prepare-se para o ambiente e leve o que for necessário: roupa de frio, repelente, água, calçado apropriado. Também é útil fazer uma check-list antes e depois das fotos, pra ter certeza que não esqueceu nem perdeu nada.

8 – Prepare-se para usar o foco manual.


Serra da Bocaina. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. F/2.8, 30 seg, ISO 1.600.
Serra da Bocaina. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. F/2.8, 30 seg, ISO 1.600.

Foco automático não funciona na grande maioria das fotografias noturnas de natureza. Simplesmente não há luz o bastante. Você tem duas opções. Primeira, usar a metragem de foco manual da sua lente: você tem de fazer uma estimativa da distância entre a câmera e o local a ser focado e marcar essa distância no anel de foco. Depois de fotografar sempre dê zoom na foto para ver se ela está nítida. A segunda opção, caso você tenha uma lanterna potente o bastante, é usá-la para iluminar o local e então focar.

9 – Formule uma ideia da foto na sua cabeça.


Muro de árvores, Praia do Félix, Ubatuba. f/5.6, 30 seg, ISO 1.600.
Muro de árvores, Praia do Félix, Ubatuba. f/5.6, 30 seg, ISO 1.600.

Imagine de antemão a foto que você quer fazer. Desenvolva uma história para a foto e construa o clima da imagem. Pense em quais os elementos existem naquela paisagem e como relacioná-los para chamar a atenção do seu público. Uma mesma paisagem pode ter um ar mágico ou sombria, confortável ou hostil, por exemplo. O que irá determinar isso é a sua intenção e criatividade! Muitas paisagens saem sem graça por serem banais e comuns, então lembre-se que não basta um cenário bonito. É preciso que você busque algo para dar personalidade e originalidade para a sua foto.

10 – Evite posicionar a linha do horizonte no meio da foto.


Espelho na Praia do Puruba. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.
Espelho na Praia do Puruba. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.

Essa é uma dica básica de toda foto de paisagem: coloque a linha do horizonte no terço inferior ou superior da foto. Em geral, ao posicionar a linha do horizonte exatamente no meio da foto criam-se composições mais quadradas e enfadonhas.

11 – Valorize objetos no primeiro plano.


Lua nascendo na Praia das Conchas. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/5.6, 13 seg, ISO 640.
Lua nascendo na Praia das Conchas. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/5.6, 13 seg, ISO 640.

Objetos no primeiro plano, mais próximos à lente, aumentam a noção de profundidade da imagem. A receita básica seria: objetos de destaque no primeiro plano / elementos da paisagem no segundo plano / céu ou horizonte ao fundo. Assim a sua fotografia ganha uma composição mais completa e harmônica.

12 – Adicione elementos humanos na fotografia.


Auto-retrato no mar. Canon 5D Mark II, 24-105mm (24mm). f/4, 30 seg, ISO 800.
Auto-retrato no mar. Canon 5D Mark II, 24-105mm (24mm). f/4, 30 seg, ISO 800.

Uma pessoa valoriza muito uma paisagem, pois cria uma identificação com àquele que vê a foto – o desejo de estar naquele local, por exemplo. Além disso, melhora as noções de espacialidade da imagem, dando uma ideia mais clara do tamanho da paisagem e seus elementos. Lembre-se que para manter pessoas nítidas na foto, você vai ter de pedir ao modelo para ficar parado pela duração do tempo de exposição da foto – do contrário a pessoa se torna um borrão. Privilegie poses naturais, para não cansar a pessoa, e avise-a ao começar a tirar a foto.

13 – Experimente usar luzes artificiais para iluminar a cena…


Escalador na Serra da Bocaina. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f2.8, 0,6 seg, ISO 1.600.
Escalador na Serra da Bocaina. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f2.8, 0,6 seg, ISO 1.600.

Você pode usar flashs, painéis de led ou lanternas. Em geral, você tem de ser sutil e harmonizar a exposição da luz que você produz com a luz natural do ambiente. Quanto mais tempo a lanterna fica ligada, por exemplo, mais clara a foto. Pense que você está pintando o local com a sua lanterna. Pouco a pouco você vai aprendendo como regular a intensidade, o movimento e a duração da luz para conseguir uma exposição correta. Se você tem um amigo para te ajudar, controle a câmera enquanto ele ilumina a cena. Se não, utilize o timer de 10 segundos para que você possa executar as duas funções.

14 – …e criar efeitos.


Passos na estrada. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.
Passos na estrada. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm. f/2.8, 30 seg, ISO 1.600.

Você também pode criar uma série de efeitos com luzes artificiais. Isso se chama “lightpainting”, ou “pintar com a luz”. Mais pra frente discutiremos com mais profundidade o tema, mas até lá você pode experimentar pequenas brincadeiras com a sua lanterna e ir entendendo como a coisa funciona. Lembre-se que em fotos de exposição longa sempre que você liga uma luz na cena isso cria uma marca. Comece apontando uma lanterna de baixa intensidade ou um led em direção à lente e desenhe linhas, desenhos ou palavras.

15 – Explore diferentes tipos de enquadramento.


Estrelas e vagalumes. Canon 5D Mark II, Canon 50mm. f/2.2, 25 seg, ISO 640.
Estrelas e vagalumes. Canon 5D Mark II, Canon 50mm. f/2.2, 25 seg, ISO 640.

Nem sempre a melhor foto será feita com a câmera apontando para a linha do horizonte. Experimente variar os enquadramentos da sua foto, apontando a câmera para o chão ou para o alto, por exemplo.

16 – Por fim, dica de ouro para iniciantes: chegue ao local da foto antes do anoitecer.


Quietude na Praia do Félix. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm, f2.8, 30 seg, ISO 640.
Quietude na Praia do Félix. Canon 5D Mark II, Rokinon 14mm, f2.8, 30 seg, ISO 640.

Ao chegar antes do anoitecer você pode ver os detalhes da cena que vai fotografar e pode andar pelo local com segurança para escolher onde posicionar sua câmera e qual enquadramento fazer. Eu recomendo muitíssimo tomar um tempo para caminhar pelo local e observar os ângulos, antes mesmo de ligar a sua câmera. Se possível faça o foco enquanto há luz. Quando anoitecer o foco automático não irá funcionar e o foco manual pode ser uma tarefa penosa no início. Se você se prepara antes tem certeza que a foto estará bem enquadrada e nítida quando anoitecer! Experimente! Fotografia noturna é feita de erro e tentativa.

Espero que essas dicas sejam úteis e incentivem vocês à experimentarem a noite. Qualquer dúvida, curiosidade ou sugestão, deixe um comentário! Aqui embaixo vocês também encontram o meu email e a minha página. Caso vocês tenham gostado, volto para outros artigos e dicas: fotografia noturna urbana, como fotografar estrelas e vagalumes, lightpainting, retratos criativos e por ai vai. Abraços moçada!

*Algumas das fotos deste artigo são parte do filme “Água Suja”, em produção.
 Você pode conhecer mais em: www.facebook.com/aguasuja

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