O fotógrafo e o autoconhecimento

O mercado de fotografia está a cada dia mais aquecido, ao mesmo tempo nunca esteve tão competitivo. Já faz tempo que os fotógrafos entenderam que precisam fortalecer sua marca, seu estilo e sua identidade visual, entre outras coisas. Não é para menos: são itens primordiais. Mas nesta busca incansável surgem perguntas: Será que estamos procurando nos lugares certos? Vivemos olhando para fora em busca de inspiração, mas e o que vai dentro, não importa?
Vou fazer a pergunta mais básica que poderia: “Quem você é?” Bem, se a sua resposta foi “fotógrafo Fulano”, é muito provável que você não esteja no melhor caminho. E se te tirassem a fotografia? E quando não há uma câmera em suas mãos, o que resta? Resta seu olhar, certamente. Mas se não pudéssemos mais ver? E se o mundo hipoteticamente caísse na “cegueira branca” do clássico de Saramago? O que restaria? É claro, isso foi só um devaneio literário, mas pense: a fotografia é o maior bem que você possui? Eu não acredito na fotografia como algo que começa e tem um fim em si mesmo. Eu penso na fotografia como um meio. Um meio pelo qual expressamos o que somos, sentimos e valorizamos. Isso começa muito antes dela e termina muito depois, se é que termina…
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É um caminho perigoso quando idealizamos o que queremos ser e onde queremos chegar, mas não fazemos a menor ideia de quem somos ou de onde viemos. Quais são seus valores? Do que você gosta? O que te faz feliz? Se você não for capaz de responder rapidamente a estas perguntas é muito improvável que consiga desenvolver estilo, identidade ou marca. Se a fotografia em si foi novamente a resposta para todas as perguntas, complicou-se ainda mais. Deve ser por isso que tantos fotógrafos por aí ostentam o título “fotógrafo” ao lado de seus nomes, ou câmeras, lentes ou diafragmas em suas logos.
Salvo raríssimas exceções, tudo que terminam por demonstrar é que não passam de operadores de máquinas. Os fotógrafos que mais admiro, e não por acaso, são pessoas que a cada dia que as conheço passo a admirar mais, e mesmo se de uma hora para outra ou por qualquer motivo não pudessem mais fotografar, continuariam tendo de mim toda a admiração e carinho. São gente. São pessoas com valores, espiritualidade e extremamente inspiradoras. A gente de alguma forma intuitiva percebe isso em seus trabalhos, em sua marca e, tenha certeza, os clientes percebem também.
Clientes não são seres que nascem e se desenvolvem para assinar contratos e financiar seus sonhos. Não! Clientes são pessoas e pessoas estão constantemente em busca de valores com os quais se identificam. O cliente não é bobo. Ele já sabe que você fotografa. Já sabe que você faz isso com câmeras e lentes. Ele quer saber o que mais você tem a oferecer. Ele quer motivos para confiar a você seus momentos mais importantes, e não vai ser o fato de você dizer que sabe usar com destreza todas as suas trezentas câmeras e lentes que irá convencê-lo.
O autoconhecimento será sempre um longo caminho, muito longo. Não há atalhos, o jeito é seguir em frente, um passo de cada vez. Para se destacar não se preocupe em ser igual ou melhor que ninguém. Apenas veja, sinta e creia no que você é. Apenas seja.

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