A fábula fotográfica: o Jardineiro e o Coveiro


Gosto muito de histórias, sempre li em voz alta para os meus alunos e com eles. Hoje, leio todas as noites para o meu filho. E acredito que nós fotógrafos somos grandes contadores de história e pensando sobre esse nosso ofício me veio essa fábula, de que existem basicamente dois tipos de fotógrafos: o Jardineiro e o Coveiro.
Vamos falar primeiro sobre o “fotógrafo coveiro” – é aquele que não torce pelo sucesso do outro, que está sempre procurando erros, defeitos nos trabalhos dos outros. Que dispensa energia tentando imitar as estratégias, as fórmulas prontas daqueles que elegeu como exemplo de sucesso e profissionais bem sucedidos.
O sucesso é ter o que o outro tem, isso é muito visível no quesito equipamentos, acredita que só irá fazer um bom trabalho se tiver exatamente o mesmo material de trabalho que o fotógrafo X tem. Quando participa de workshops está mais preocupado em clicar desesperadamente para renovar seu portfólio em detrimento de viver a experiência e aproveitar a oportunidade para APRENDER. Acredita que conhecimento é uma arma de barganha e que dividi-lo é alimentar a concorrência. Suas perguntas são sempre as mesmas: qual é a câmera que você usa? Quais lentes? Qual setting??
O fotógrafo coveiro enterra os próprios sonhos sem perceber e faz questão de não deixar os sonhos dos outros florescerem. Está preocupado com a agenda lotada e não com as pessoas.
Em contraponto, temos o “fotógrafo jardineiro”. É aquele que semeia valores positivos por onde passa, que deseja um mercado mais justo e tenta contribuir para que isso se concretize. Estuda! Lê livros sobre os mais variados temas, aprecia artes em geral e viaja, nem que seja pela internet.
Participa de workshops escolhidos criteriosamente, se pergunta: o que esse fotógrafo tem para me ensinar? Vale a pena estar com ele? Fará diferença na minha vida? E mantém a postura de uma criança curiosa e criativa. Dividir conhecimento é sua meta de vida, acredita que quanto mais divide mais isso irá se multiplicar e qualificar os profissionais e educar o mercado.
Não sejamos ingênuos em achar que existe um modelo puro, ninguém é 100% bom ou 100% mal, temos aquilo que mais predomina em nós e que alimentamos diariamente. O que estou dizendo com isso é que somos todos seres humanos em aprendizagem ad eterno, e que nossas experiências vão nos moldando e modificando, em algum momento podemos estar fechados ao outro e não querermos dividir nada, já em outra situação, talvez mais amadurecidos, com uma postura mais colaborativa. E também, entre um perfil de fotógrafo jardineiro e o de coveiro, podemos ter infinitas outras formas de ser fotógrafo!
O que importa, é que podemos sempre mudar, e que seja pra melhor, pra si e para o outro.

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